Amizade sincera.

Amizade sincera.
Pq cm ela eu sei que sempre posso contar.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Análise do livro "Dom Casmurro"


Bento era um homem corroído pelas lembranças de sua vida. Com isso começa a relembrar de fatos que marcaram sua vida. Com apenas quinze anos, vê-se na iminência de ir para o seminário, fruto de uma promessa que sua mãe fizera caso ele nascesse. Porém Bentinho tinha certeza que não tinha vocação para ser padre. Além disso gostava muito de uma vizinha, Capitu, de quatorze anos, que passou a infância toda com ele. Os dois eram muito amigos e Bentinho gostava muito de ficar ao seu lado. Capitu amava Bentinho, mas o garoto era tão desligado que nunca percebera isso. Deu-se conta de seu amor ao ouvir uma conversa e após teve a confirmação final ao receber o seu primeiro beijo.

Agora as coisas realmente se complicavam. Bentinho queria ficar, mas se ele se recusasse a ir ao seminário, sua mãe poderia entrar em desespero. Nunca quisera fazê-la sofrer. Capitu também desejava ficar ao seu lado. Bento era submisso e nunca ousaria desobedecer uma ordem de sua mãe, mas Capitu, que era inteligente, arisca e astuta tramou um plano, no qual Bento persuadiria José Dias para estudar na Europa. Dessa maneira, esse velho criado convenceria sua mãe para esquecer a idéia do seminário. Bento devaneava; sonhava que o imperador pediria à sua mãe que o livrasse do seminário, ou até o papa lhe enviaria uma carta, desobrigando o garoto da tarefa. Enquanto isso Capitu analisava a situação, aproximava-se da mãe de Bento, curiosa por tudo.

A ordenação do padre local a um cargo mais alto na Igreja acendia n mãe de Bento ver seu filho padre, remando no sentido oposto aos esforços do casal. Capitu e Bento juraram que iriam se casar, não importando o que acontecesse. Como a ida para o seminário era certa, para lá foi Bentinho. Não era de todo mal, já que lá ele conhecera o seu melhor amigo, Escobar. Nas idas para casa, nos fins de semana, José Dias cobrava a viagem à Europa. No seminário, Bento e Escobar davam-se muito bem, trocando até segredos e visitas a sua casa, nos dias de folga. Veio então o remendo para a promessa da mãe de Bento: dar ao seminário um filho que não seja Bentinho. Pode ser um adotado às pressas. E assim Bentinho saiu do seminário. Saindo do seminário, Bento foi estudar Direito, Formou-se a casou-se com Capitu, assim como havia prometido. Continuou grande amigo de Escobar, agora bem sucedido comerciante. Bento era feliz, mas lhe faltava algo, um filho, que demorou mais veio: Ezequiel. Partimos agora para o clímax da história: anos depois, uma tragédia: a morte de seu grande amigo Escobar. No enterro, Bento viu algo que lhe deixou estarrecido: o olhar de Capitu ao caixão. Será que ela gostava de Escobar?

Bento começou a notar que seu filho Ezequiel era a cara de Escobar. E a medida que crescia, a semelhança aumentava. Bento começou a endurecer, tentara se matar e matar a criança. Mas teve outra solução. A história tem seu desenlace: Bento manda esposa e filho para a Europa. Comunicava-se apenas através de cartas secas, sem sentimentos. Ao cabo de alguns anos Capitu morre e Ezequiel vem ao Brasil. Já moço é o perfeito Escobar, apenas algumas diferenças. O moço vai ao Egito com amigos e morre de febre. Finda-se a saga. O senhor Bento, velho, chato, ou seja, casmurro.

A história narrada no livro ocorre a partir do ano de 1857 quando o personagem principal, Bentinho, tem 15 anos. Na verdade a história, de certo modo, são as suas memórias, já que, depois de adulto, ele conta a história de sua vida. Assim, para manter o romance mais próximo da realidade, Machado de Assis faz com que Bentinho, no decorrer da narrativa, lembre de pequenas histórias paralelas, quebrando o ritmo, dando um aspecto quebradiço a obra. Isso é muito comum quando contamos uma história a alguém, pois um fato nos faz lembrar de outro, que nos faz lembrar de outro, e assim por diante. É mais ou menos isso que ocorre com Bentinho. Ele vai ziguezagueando pelo tempo, alternando momentos de total linearidade com grandes saltos temporais, tanto para o passado quanto para o futuro. Essa é uma característica marcante dos romances de Machado de Assis, e é encontrada também em outros livros. Assim podemos concluir que em certas partes da narrativa o tempo é cronológico, como quando é as datas são precisamente informadas, e em outras partes ele é psicológico, variando com o pensamento do narrador.

A história se passa na cidade do Rio de Janeiro, e a casa onde Bentinho morava encontrava-se na Rua de Matacavalos. Vemos aí mais uma característica realista, em que o narrador informa com total precisão onde se passa a história, e até o nome da rua é dito ao leitor. As ambientações ocorrem tanto externa como internamente, e não é muito utilizada a exploração de paisagem, já que não há uma descrição detalhada dos ambientes. Um dos poucos ambientes mais bem descritos é a casa de Bentinho quando criança, que ele posteriormente reproduziria noutra casa, onde vivia depois dos fatos narrados no livro.

São muitos os personagens que passam pela vida de Bentinho, porém os mais importantes são: Capitu, a namorada de infância que posteriormente se tornaria sua mulher; Escobar, seu melhor amigo desde sua passagem pelo seminário até se tornar adulto; D. Maria da Glória, sua mãe, viúva; Tio Cosme, irmão de sua mãe; sua prima Justina; José Dias, o agregado da família desde a época que o pai de Bentinho era vivo; Sancha, amiga de Capitu que se tornaria mulher de Escobar. Posteriormente, há o aparecimento de Ezequiel, filho de Capitu e Bentinho. Dos personagens citados, além de Bentinho, podemos destacar três: Capitu, Escobar e Ezequiel.

Bentinho era um menino inseguro, mas feliz e que descobriu o amor rapidamente na adolescência e casou-se com Capitu, sua primeira namorada. Porém com os acontecimentos decorridos na sua vida, foi se tornando uma pessoa triste, amarga e fechada. Daí o apelido, Dom Casmurro, conseguido na época em que escrevia o livro. Já Capitu é uma das grandes incógnitas da literatura brasileira. Seus "olhos oblíquos e dissimulados" assim descritos pelo agregado José Dias, até hoje intrigam os leitores do romance de Machado de Assis. O que com certeza podemos saber é que ela era uma garota esperta e perspicaz, que nunca deixava passar nenhum detalhe, ao contrário de seu marido. Escobar era o melhor amigo de Bentinho, desde a época em que eles se conheceram no seminário. Era um bom rapaz, honesto, e que rapidamente conquistou a simpatia da família de Bentinho. Depois de adultos, continuaram amigos, assim como suas esposas. Acabou morrendo tragicamente afogado no mar. Ezequiel era o filho que Capitu e Bentinho. Ou talvez não. Na verdade esse é mais um dos mistérios que envolvem Dom Casmurro. Ezequiel sempre fora amado por seus pais, até que foi crescendo e Bentinho começou a reparar uma grande semelhança física entre ele e seu amigo, Escobar. Quanto mais ele crescia mais ficava parecido com o falecido. E isso foi o divisor de águas da história, e que acarretou na separação de Bentinho e Capitu. Depois de homem feito, Ezequiel retornou um dia para uma visita a Bentinho e este, ao invés do filho, via a imagem de Escobar.

Assim, analisando os personagens mais importantes do romance, percebemos que há uma grande análise psicológica de cada um deles, principalmente de Bentinho e daqueles que mais exercem influência sobre ele. Podemos notar que Machado dá uma grande ênfase aos olhos, como sendo o espelho da alma. Este é o porquê da definição de José Dias sobre Capitu.

Voltemo-nos agora ao foco narrativo da história. Como já foi dito, a história é narrada por Bentinho, que é o personagem principal do livro. Assim a narração é feita em primeira pessoa. Essa é uma característica marcante do romance, já que são as transições ocorridas na mente de Bentinho ao contar a história que dão um toque especial à obra. Bentinho acaba tendo uma conversa franca com o leitor, e se intromete em vários pontos da história para emitir sua opinião ou fazer uma observação. Além disso, ele deixa claro como ele se sente em cada momento. Suas alegrias, suas diversões, seus medos, suas angústias, tudo isso é transmitido ao leitor a cada passagem do livro. Além disso, ele não tem certeza de tudo o que ocorre ao seu redor, muita coisa é deixada no ar, propositadamente subtendidas. As emoções que ocorrem com outros personagens muitas vezes são um mistério e acabam passando desapercebidas. Dessa maneira não existe onisciência narrativa.

Analisando agora a linguagem, percebemos que há a predominância do diálogo direto, ou seja, as conversas entre os personagens são reproduzidas exatamente como teriam acontecido. Não há a presença marcante da descrição, apenas alguns lugares recebem uma atenção maior, como a casa de Bentinho e o seminário. E, como não poderia faltar, há a crítica social, característica do realismo e de Machado de Assis. Essas críticas não são feitas diretamente pelo narrador, no caso Bentinho. Elas estão camufladas dentro da história. Poderíamos citar como exemplo a influência que a Igreja Católica exercia nas pessoas da época, que acabavam fazendo promessas que não poderiam cumprir ou utilizavam orações como moeda, fazendo pechinchas com Deus, o que em certa parte da história ocorre com Bentinho.

Também existem os fatos que cercam Capitu, que durante sua infância mostra ser visivelmente mais pobre que Bentinho. Será que sua luta por não deixar Bentinho era por amor ou por dinheiro? Capitu traiu Bento, ou ele fantasiara tudo isso em sua crise de ciúme? Estas e as outras perguntas não são resolvidas no fim da história e muitas vezes causam polêmica até hoje.

Dom Casmurro é bastante verossímil, já que apresenta a sociedade brasileira do século XIX e seus costumes. Mostra o amor, através dos olhos de um adolescente, mostra o jogo de interesses no cumprimento de promessas, os interesses sociais que cercam a vida eclesiástica. Dom Casmurro, um excelente livro, elegante e ao mesmo tempo de prazerosa leitura, que nos envolve do começo ao fim, incumbindo o leitor de tirar suas próprias conclusões, no melhor estilo machadiano.

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