Amizade sincera.
sábado, 19 de dezembro de 2009
Inspiração para corações apaixonados
Florbela Espanca
Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto.
Não ser
Ah, arrancar às carnes laceradas
Seu mísero segredo de consciência.
Ah, poder ser apenas florescência
De astros em puras noites deslumbradas.
Ser nostálgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver.
Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?
Em ti o meu olhar fez-se alvorada,
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho,
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura do linho
Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou.
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou
Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência
Que é já vontade doida de gritar.
E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar.
Amor que morre
O nosso amor morreu.Quem o diria.
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia.
Bem estava a sentir que ele morria.
E outro clarão, ao longe, já desponta
Um engano que morre e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia.
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir.
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