Amizade sincera.

Amizade sincera.
Pq cm ela eu sei que sempre posso contar.

sábado, 19 de dezembro de 2009


Teus olhos

Florbela Espanca

Olhos do meu Amor. Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.

Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados.

Olhos do meu Amor! Fontes. cisternas.
Enigmáticas campas medievais
Jardins de Espanha, catedrais eternas

Berço vindo do Céu à minha porta
Ó meu leito de núpcias irreais
Meu sumptuoso túmulo de morta


Lágrimas ocultas

Florbela Espanca

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida.

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida

E fico, pensativa, olhando o vago.
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim.

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma
Ninguém as vê cair dentro de mim


Se tu viesses ver-me.

Florbela Espanca

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços.

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca. o eco dos teus passos.
O teu riso de fonte. os teus abraços.
Os teus beijos. a tua mão na minha.

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca.
Quando os olhos se me cerram de desejo.
E os meus braços se estendem para ti.

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